sábado, janeiro 21, 2012

Segredo de pele


Na varanda, o longe é lugar onde os meus olhos andam. E ele não vem e a rua se torna de uma dimensão quase neural. Em todo o tempo retoco o batom para que não resseque a boca do beijo que guardo para a noite. Há em mim milhões de palavras que não foram ditas e que precisam de abrigo em sua pele e mãos que me farão poemas em braile. Ele disse que seria assim e eu ainda o espero.

Ali em cima, o céu é a pele que guardo sem tatuagem. E em tudo vejo as suas asas fazendo contorno ao brincar de nuvens. Há um ritual para essa espera como todos os rituais de encantamento. Somos sozinhos sempre tão ou mal acompanhados.

Toco os meus limites com a palavra que se contorce de ausências. Não é você, nem sou eu, nem coisa alguma que nos resguarde. Eu tenho em mim a vontade de contornar a vida e me encontrar livre, ali, no fim daquela rua onde a espera tem o formato dos passos dele passeando por sobre as folhas secas e fazendo desenhos como se tocasse todas as falas.

Ele me disse tudo e eu guardei o que me feria a língua. É madrugada. E a noite me guarda um frio que não me pertence sem a pele dele... eu me entendo quando em mim a sua ausência me provoca enjoos.

Sinto a sua falta e isso é um outro poema que precisamos desenhar juntos.

Dira

7 comentários:

Dira disse...

Castigo de amar é acreditar que o outro vem.

Anjo disse...

O outro sempre vem acredite!!!!!!

Dira disse...

espera é meu nome.

rubens disse...

É na pele que transparecemos os nossos mais arredios segredos. Há dias em que ela chega a sangrar. Ame absolutamente, Dira. Seu blog é um convite, uma ode ao sonho. Beijo.

Dira disse...

eu sei.

Dira disse...

Obrigada por estar aqui, amigo Rubens. Se gostou do jardim, vem mais vezes...rs

Joana Belarmino disse...

Adorei, obrigada pelo poema em braille.