segunda-feira, novembro 02, 2015

(trocou as pernas pelas palavras e saiu cruzando letras por aí até esbarrar no olhar que a abraçou de corpo inteiro).
(vestia o olhar quando as palavras não lhe cabiam no corpo e ainda assim deixava displicentemente a camisa aberta de sonhos...)

Dira Vieira

domingo, novembro 01, 2015

Não há dignidade no amor que não encontra pouso no outro. Como cigano, quem ama sozinho acostuma-se a desarmar a barraca toda vez que o coração nos manda embora.

Dira Vieira
kamikase


a palavra
desceu a goela
abaixo
e fez rios
onde mora a alma
das cores
(morro em tua boca
cada sílaba dessa língua horta)

Dira Vieira
Capitão dos ventos

atemporal. o beijo é o tempero guardado entre os dedos. e toda sílaba
suspira em si mesma em tanto rodeio. é de outro, o tempo o calor e o pelo. caixa de guardados e chaves jogadas fora. mantenho bem preso o remorso, culpa de desistir assim tão cedo...
eu mantenho a mim mesma entre grades até que a palavra, lavada e lambida, descolore um coração cravado de esperas.
não era assim em vermelho a tua boca de dizer bom dia. quero o que me falta em tempo até o que foi seja exposto em vísceras possa se declarar gente. porque em mim toda fome é fera e toda a calma, brisa que já foi tempestade entre os dedos.

Dira Vieira