a fome é o avesso do homem e o que me consome toda vez que
penso em você. É entrar por uma porta, sair pela janela, pintar o quadro sobre
a paisagem morta e ver você em 3D. Eu
sinto fomes, quase insuportáveis de dizer. Dessas que as pessoas não
compreenderiam e achariam um absurdo, mas cada vez que fecho os olhos é a tua
pele que se desenha o seu olhar sobre o meu. Pele de umidades e de desejos.
sim, eu tenho a fome de todo o dia, a hipocrisia de não
dizer abertamente que eu o amo. Assim, meu amigo, aberto o livro em que escondo
de ti a palavra vida soprada na minha cara com um gosto de chocolate que arde
entre os meus punhos...
[é a tua mão que arde entre a minha, é a tua pele que
escorre entre os meus dentes, é a tua falta que escreve em mim a tua poesia]
e eu te desenho em branco e preto, com a esperança de que um
dia, a cor da minha voz seja a tua melodia e a minha falta seja o que te escreve
fome nas tuas entranhas.
porque tudo em mim é você e o que me falta ainda tem a tua
assinatura em branco de detalhes.
a minha mão repousa sobre a tua ausência e cobre as tuas asas que se espalmam em mim. tu és o q me falta e a rua fica mais larga quando a tua palavra cala e some entre as entrelinhas.
o que me sobra é o que tu calas. e quando vens, eu respingo em festa e tudo em mim acorda e sonha.
Dira Vieira