sexta-feira, janeiro 11, 2013

do impossível...





a pele solta
lambe a palavra
e derrama 
o mel de sua língua

em um clichê
de poesia
letra

letra
que se contorce
em falta

em um inglês sem tradução
de um corpo
que se toca 
sozinho

enquanto se copia
o olhar
dele
menino solto 
pássaro na gaiola

de um céu 
e estrelas artificiais

o anjo que cansou de asas abertas
e saltou na vida real

sem o sangue que arde
no braille
de bocas que se entendem
por sí-la-bas
e líquidos. 

Dira

o que conto de mim



o que eu conto de mim tem a parte dele que sopra ao ouvido enquanto durmo.

o que eu escrevo tem metade de mim no suor da sua pele magra, como a carne que secou no varal e ficou ainda mais longe.

o que brilha é a pele, o marron que me comove
luz que escorre
choro, vela, missa de sétimos anos
líquidos de uma fala que cessou e fechou a avenida epitácio pessoa

o que eu conto de mim
é madalena em cabelos soltos
com os codinomes de uma fala rouca, sofrida
de quem ama
em vias de mão única
única pele
única dor
única cor de batom
única flor que se deixa murchar sem perder o sabor

o que conto de mim
tem o cheiro dele, os dentes bem brancos
e a poesia que eu pesco
na cor da pele
e na boca que pronuncia o silêncio
toda vez que penso nele

o que conto de mim
é tudo mentira
porque não falo do amor
que nunca morre
do desejo que nunca farta
e que tem todos os sons
menos o dele chamando a mim
na sala de janela aberta para a rua e uma tv ligada em canal algum

o que conto
reza madalena em todas as cores
e cetim. 

Dira Vieira