o que
eu conto de mim tem a parte dele que sopra ao ouvido enquanto durmo.
o que
eu escrevo tem metade de mim no suor da sua pele magra, como a carne que secou
no varal e ficou ainda mais longe.
o que
brilha é a pele, o marron que me comove
luz que
escorre
choro, vela, missa de sétimos anos
líquidos
de uma fala que cessou e fechou a avenida epitácio pessoa
o que
eu conto de mim
é
madalena em cabelos soltos
com os
codinomes de uma fala rouca, sofrida
de quem
ama
em vias
de mão única
única
pele
única
dor
única cor de batom
única
flor que se deixa murchar sem perder o sabor
o que
conto de mim
tem o
cheiro dele, os dentes bem brancos
e a
poesia que eu pesco
na cor
da pele
e na
boca que pronuncia o silêncio
toda
vez que penso nele
o que
conto de mim
é tudo
mentira
porque
não falo do amor
que
nunca morre
do
desejo que nunca farta
e que
tem todos os sons
menos o
dele chamando a mim
na sala
de janela aberta para a rua e uma tv ligada em canal algum
o que
conto
reza madalena
em todas as cores
e
cetim.
Dira Vieira
Um comentário:
Eis que vejo
Madalena
tecendo suas rezas
colorindo seus
sonhos de amor
e desejos fartos
com batom carmim
e cabelos
soltos
revoltos
ao vento.
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