segunda-feira, janeiro 30, 2012

Plantando chuvas...




É quase certo que ele saiba o sentimento que me povoa a pele. Sinto isso quando olho sempre para os lados e posso sentir a sua respiração perto. Respiração de quem ama, mas não vem.

O dia me chamou para uma conversa séria e eu chorei. Sabia que as lágrimas não cessariam enquanto os pedaços cortados em atitudes não fossem rejuntados. Me fiz rio e mais que um simples choro, tornei-me um vendaval incontrolado de dor. Uma dor quase insuportável que me fez vários fragmentos de vontades e decepção.

Eu me inundo. E faz tempo que não me banho nessas águas de dores porque tenho aprendido a domesticá-las e mantê-las longe onde não causem danos... tenho aprendido a ler a lua, a entender as marés e a soltar o barco à sua própria sorte. Mas viver é esse risco de embate e de contradições.  

E hoje, essencialmente hoje, rios sufocam a minha pele e escorrem pelas ruas onde tudo o que leio é o que falta nesse mar. Tenho em mim que a respiração ofegante dele a qualquer momento vai me pedir para ficar e eu vou continuar plantando as chuvas de uma alegria quase impar de se ver.

Não vou fotografar meu riso quanto tantas vezes fotografei a dor. Que a minha alegria de ventos seja para sempre guardada nas fendas das montanhas longe de todo olhar que me afaste dele. Tenho em mim a ausência da alegria e parece que o tempo não vai parar por causa disso.

Abro os braços enquanto solto a direção na estrada. Nem sou anjo, nem piloto ventanias, mas o que tenho isso espero, a minha voz em protesto e o meu amor como casaco de pele.

Eu espero, plantando as chuvas como quem calça chinelos. 

- Deixo para ele as "reticências de Deus".

domingo, janeiro 29, 2012

Bomdiadomingo



O dia me assalta, me joga da cama contando estorinhas para boi dormir. Mas eu já acordei. E a cama quentinha é apenas uma imagem na lembrança.

Vamos ao mar e a minha esperança se rende em família.

Que venha o sol.

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Casulas comigo?

Wings of Desire, fotografia de Michael Matlach, 1989. EUA.


abri as mãos como se fosse possível encontrá-lo dentro delas. mãos úmidas de esperança, o coração que soletra seu nome e a vontade de adivinhar-lhe as asas.


trago a boca ainda ávida de sua voz como se a sua pele fosse posta em mim como uma tatuagem antiga. era você em mim desde o princípio e tudo o mais que se fizer palavra depois disso se tornou uma repetição de parágrafos, esperas úmidas.


a minha voz embargada dos dias que acordam longe de você tem o momento exato da falta de sua pele na voz rouca que sussurra o seu nome...


abri meu corpo para procurar você e me encontrei debaixo de suas asas. 

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Herança






Porque em mim o que de ontem e hoje vira fim de festa em meu estômago, desenha os vácuos em transparências de suas faltas. 

Se você não vem eu me embrulho e seco pois sou como as aves e as folhas largadas de suas peles...

em mim, o que restou é pele molhada sobre mim.

Dira

terça-feira, janeiro 24, 2012

Dupla Face


Lagoa em dia de chuva, alagamento à vista.
Foto de Josivandro Avelar - http://www.josivandroavelar.com


a chuva lá fora não
molha
o dentro
que minha alma suporta


é você
corpo de esperas
promessa

ardendo em mim


palavra
em contra mão
contra
senso
contra
falta


o que tenho
é um coração


ardendo
em favor
e contra


esse verbo
que me conjuga
não resolve
encantamentos


estou só
e junto
até que o muito
se prove em contrário.


(dira vieira)

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Viver é mergulhar no improvável


Marina Lima de fundo musical E:



Café da manhã de frente pro mar.

Bom dia!

sábado, janeiro 21, 2012

Segredo de pele


Na varanda, o longe é lugar onde os meus olhos andam. E ele não vem e a rua se torna de uma dimensão quase neural. Em todo o tempo retoco o batom para que não resseque a boca do beijo que guardo para a noite. Há em mim milhões de palavras que não foram ditas e que precisam de abrigo em sua pele e mãos que me farão poemas em braile. Ele disse que seria assim e eu ainda o espero.

Ali em cima, o céu é a pele que guardo sem tatuagem. E em tudo vejo as suas asas fazendo contorno ao brincar de nuvens. Há um ritual para essa espera como todos os rituais de encantamento. Somos sozinhos sempre tão ou mal acompanhados.

Toco os meus limites com a palavra que se contorce de ausências. Não é você, nem sou eu, nem coisa alguma que nos resguarde. Eu tenho em mim a vontade de contornar a vida e me encontrar livre, ali, no fim daquela rua onde a espera tem o formato dos passos dele passeando por sobre as folhas secas e fazendo desenhos como se tocasse todas as falas.

Ele me disse tudo e eu guardei o que me feria a língua. É madrugada. E a noite me guarda um frio que não me pertence sem a pele dele... eu me entendo quando em mim a sua ausência me provoca enjoos.

Sinto a sua falta e isso é um outro poema que precisamos desenhar juntos.

Dira

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Anjo



O pensamento não pára de percorrer ruas, esquinas e praças em busca do que de invisível se deixa tocar pela pele que arde na simples hipótese de que o anjo tenha o nome da minha espera. 

quarta-feira, janeiro 18, 2012

O tempo agora é marco e é história



Quando os pés se enfiam na areia fofa da praia, as ondas veem com uma força de restauração e me sacodem para o dentro de onde ainda é o melhor lugar de se ficar.

É o mar que me lava, de ontem, de hoje, estrada aberta onde o meu olhar se prepara para enfrentar enquanto os acostamento, antigo perigo me aborda em uma tarde em que o meu corpo quer dormir mas a minha mente não consegue parar.

Tudo em mim é metade, vontade, palavra que se deita em minha pele fazendo ondulações e possíveis contatos. E se eu escrevo essa canção me inscrevo na pele dele, com todas as placas de pare, é proibido estacionar ai, mas eu continuo diminuindo a velocidade com medo de em pleno voo abortar a intimidade das asas abertas.

Açaí.

Mar alto onde o meu corpo pede um tempo antes que a próxima cena me domine e me deixe completamente refem do papel que o destino escolheu para mim. Sou mais que isso, na frente do espelho brigando com as marcas na pele e as histórias escritas em braile minuciosamente e tão delicamente que se ele me tocar, saberá dos meus medos e segredos.

A porta aberta.

A saliva secou a espera de outra boca, a que eu quero e a dona do beijo, o que nunca dei, e o que arde em mim como promessa de risos e gemidos em outra dimensão de esperas.

vou ali deitar o cansaço e volto, porque o que sou está transcrito, decifrado e nunca oculto, capaz de ser manual de esperanças incompletas,.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Em mim a noite ainda é dia




O dia amanheceu em mim e me dei conta que tenho acordado tarde. Não pode ser isso. Quando se acorda tarde é impossível acompanhar o sol que de teimoso queima as ruas sem o nosso consentimento. E eu queria estar com ele, aquecendo aos poucos o dia e as árvores dessa rua.

Dou-me conta da palavra que a pele molda, em uma tez que não é minha mas que adorna a minha imensa vontade de chorar. Os olhos parecem secos e a vontade se derrama em um dia quente. E eu poderia voltar a dormir se eu conseguisse adormecer o que em mim grita.

Tudo grita.

A urgência e a delicadeza de transpor essa luz de um dia que bem podia ter me deixado na cama. E eu quero voltar a ela para sonhar o que me deu a noite anterior.

Porque em mim, cada raio desse sol me diz que estou atrasada para um encontro que talvez eu nunca terei. E as pedras das minhas células que se retorcem nesse complô contra a minha ansiedade se movem e se recriam e a palavra novamente me chama a atenção para um parto que eu preciso fazer.

É aqui, na mesa da cozinha, onde eu me escondo enquanto o telefone toca e eu aviso, em secretária eletrônica que morri, ou que não estou para a superficialidade.

Em mim, tudo é mergulho e mar alto e profundo.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Eu me pertenço ao que acredito


E quando a tarde se vai em uma melodia de longe, muito longe, me coloco submissa ao que acredito. Faz de conta que nem estou tão sozinha e que o que acredito se coloque como realidade sobre a minha paisagem.

E se a palavra ainda me construir, me coloco de braços abertos ao que velo e ao que sinto, como quem se coloca no altar ao que for mais importante.

O que sinto tem endereço e chama para si uma imensidão de sons e gestos que só são perceptíveis a quem como eu, vê ao longe e ao largo esse desejo tão grande de chover, onde terra seca era a palavra prática que ensaiava a esperança.

Todas os verbos recriam em mim uma modalidade inesperada de renascer, quando todas as ordens já tinham sido dadas em contrário.

Eu existo, e o verbo em mim me renova em contrário.
Anjo, não consigo responder lá nos comentários, vai aqui sua resposta com fundo musical:




há beijos e beijos. acho que eu ainda espero o beijo avassalador. aquele q espero e que começa em uma outra dimensão pode nem ser físico, há outros beijos em nossa escala de encantamento, não é mesmo, anjo?

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Oração





Os olhos meus acordaram esperando o fim da rua de quem não sabe onde mora a minha ausência.

quarta-feira, janeiro 04, 2012

O beijo que falta

"Tenho diversos beijos guardados: o nao sei; o acidental; o sexual; o teimoso; o noivado; o atrevido, o absoluto, o etc e tal e o q falta!" Irapuan Sobral


Quando tudo se esconde em uma página de um livro que nunca lemos, a saudade se torna uma poesia declamada em um vídeo que você descobre por acaso, enquanto vasculha páginas a ermo na internet. O nome dele tem o tamanho da minha ansiedade. E a angústia da caverna em assusta e me acumula desejos.

Eu guardo os beijos que nunca dei. E a lembrança do que não vivi forma círculos em minha cabeça como uma novela escrita em Braile sobre a minha pele... é amor, eu sei... e o dia se torna mais longo.

E se ao menos ele me saísse de minha cabeça eu iria lá fora, respirar outro ar e voltar aqui, para trabalhar.

terça-feira, janeiro 03, 2012

A falta é a minha resposta em lugar da dúvida


O que me falta é o que excede na minha dúvida. E quando ele me olha do nada respondendo às perguntas que nunca fiz, o meu coração se reparte em culpas. Eu sou de março e ele é abril e todas as falas remetem a um setembro de sonhos fragmentados em um quebra cabeça que ele não montaria se eu não tivesse rompido os laços.

Eu acalentava a verdade como quem guarda um tesouro que se descoberto mudaria todas as falas. E eu abri todas as portas, porque em mim o vácuo era a fala dele com nome e sobrenome de vida. E a vida, essa que adornamos em fitinhas e lacinhos coloridos e colocamos uma moldura rosa para pregar na parede dos vizinhos, é a que menos me interessa. Porque o meu sangue desce pelos poros e respira ausências de tantas esperas.

Exibimos o perfeito de nossas máscaras. O melhor sorriso, o melhor batom, a roupa comprada para a festa, a simpatia dos casais na pracinha da cidade, o sorvete que não amarga, o chocolate nunca amargo, a lingerie comestível, a pipoca na sala e o filme na cabeça. Dentro em nós, outros tons, outras dores, outros amargos de feira e o sorriso, sem clareamento dental mostra a tatuagem do dente e do dentro, onde tudo é metade nós mesmos.

Eu poderia fingir. Nomear as angústias, revelar minhas ausências, dizer o que não consigo nem sonhar... mas em mim, a palavra tomou a forma de nada e calou-se farta de tantas leituras e silêncios.

Estou aqui.
E isso pouco importa a essa noite.