É quase certo que ele saiba o sentimento que me povoa a
pele. Sinto isso quando olho sempre para os lados e posso sentir a sua
respiração perto. Respiração de quem ama, mas não vem.
O dia me chamou para uma conversa séria e eu chorei. Sabia
que as lágrimas não cessariam enquanto os pedaços cortados em atitudes não
fossem rejuntados. Me fiz rio e mais que um simples choro, tornei-me um
vendaval incontrolado de dor. Uma dor quase insuportável que me fez vários
fragmentos de vontades e decepção.
Eu me inundo. E faz tempo que não me banho nessas águas de
dores porque tenho aprendido a domesticá-las e mantê-las longe onde não causem
danos... tenho aprendido a ler a lua, a entender as marés e a soltar o barco à
sua própria sorte. Mas viver é esse risco de embate e de contradições.
E hoje, essencialmente hoje, rios sufocam a minha pele e
escorrem pelas ruas onde tudo o que leio é o que falta nesse mar. Tenho em mim
que a respiração ofegante dele a qualquer momento vai me pedir para ficar e eu
vou continuar plantando as chuvas de uma alegria quase impar de se ver.
Não vou fotografar meu riso quanto tantas vezes fotografei a
dor. Que a minha alegria de ventos seja para sempre guardada nas fendas das
montanhas longe de todo olhar que me afaste dele. Tenho em mim a ausência da
alegria e parece que o tempo não vai parar por causa disso.
Abro os braços enquanto solto a direção na estrada. Nem sou
anjo, nem piloto ventanias, mas o que tenho isso espero, a minha voz em
protesto e o meu amor como casaco de pele.
Eu espero, plantando as chuvas como quem calça chinelos.
- Deixo para ele as "reticências de Deus".