sábado, junho 16, 2012



Tire-me pra dançar, anjo


deixei a voz presa enquanto pensava o teu nome. era um pássaro com asa dentro da minha blusa enquanto balbuciava a esperança. os seus dedos em penas sobrevoavam a minha pele de fêmea, mas era Madalena quem suspirava e não eu, que a tudo resistia melancolicamente. não podia voltar àquele tempo em que fui tua. a menina doce, a mulher afoita e a Madalena que adormecia silenciosamente entre as tuas asas.

enquanto falavas no altar, a menina sonhava e enrubescia com a memória de silêncio e de odores que se faziam asas em páginas e páginas em que te escrevia como em gritos.
não volto mais ao portão e o cachorro que latia quando a noite se tornava tarde, agora jaz em alguma lembrança minha ou sua. não resolvemos ainda essa parte da vida?

Madalena levantou após a fala, mas não tinha o rubor facial que merecia aquela memória, ao contrário, ardia em pêlos e sentia a tua pele levantar a alma da menina que guardava em si, e isso era pecado mortal.

(eu tenho medo de tuas dúvidas, porque tenho medo de te perder...
não brinca de achar o que estou pensando ou o que não estou, porque em mim, as únicas fogueiras que queimam é as de uma inquisição particular e íntima).

e mesmo que o meu amor seja bem maior que o seu, a fala é a minha retirada de cena, quando o que me resta é arrumar as malas dentro de nós e pegar a estrada antes que a noite me desnude.

sufoco em mim o rubor facial quando o teu olhar me tira a pele e me chama para dançar, assim, completamente à luz, aos olhos dos que não entenderão nunca o que acontece quando  as almas dizem sim.