segunda-feira, julho 30, 2012



entrelaçados


"...meus pés ainda sonham o teu chão..." (Astier Basílio, Sal de Prata)


esperando os dias
as palavras
e o entrelaçamento de minha esperança na tua.

esperando as palavras
e os dias
e nossas bocas se entrelaçando na rua.

Dira

sexta-feira, julho 27, 2012


FRUTA MADURA




Imagem de Célio Diniz


Como água para chocolate assim o amor se derrama onde encontra afago e proteção. É assim que Madalena se derrama sobre a paisagem, abrindo o mote sobre as nuvens e nomeando as palavras compassadamente uma a uma sobre o que sente... o que é meu é teu, e o que é teu tem a tradução do meu olhar sobre o infinito e o teu olhar perdido que grita quando eu nem sei o que fazer. Entrelaçados nos marcamos nessas linhas no olhar que se molda na simplicidade do estar junto quando a noite se cala
 .
Não é preciso muito para dizer o quanto sou o dentro e no entorno...

... e por mais que me esquive e voe... e por mais que resista e nomeie as fotografias, serás sempre a minha melhor imagem tatuada na boca, hálito que descreve o teu gosto.

Porque tudo o que há em mim tem a sua mão moldando o meu sonho... e por mais que voe longe, a porta se fecha em contrário e me atrai no casulo para bem perto de ti. Os sonhos eu nem herdo, traço-os a mão como quem muda o mundo.

E se isso é o que me resta dessa vida... adorno a vontade e fico quietinha traduzindo a voz cortada, a vontade sufocada e o amor imenso que trago por ti.

Como água para o chocolate o teu afeto é desejo derramado sobre a boca salivando a esperança... enquanto formos antigos... e, assim, no querer, sempre haverá quem traduza que o simples ganhará o mundo e salvará a própria pele...

Fruta madura é a saudade... e o que vai ficar é o que ganhamos da vida... afeto que se derrama em tua pele morna, fruta madura ainda no pé.

Porque o amor tem sete chaves e o que me abre tem o formato da sua boca... quando o dia se enfada das 24 horas e pede o descanso do merecido sonho...

Não é o dom que me move... é amor que me desenha em sementes e pétalas.

[... porque em mim o que grita é o que me calas... e o que imploro é tempestade sobre nós até que essa fome acabe e esse silêncio nos salve...]

Dira Vieira

domingo, julho 08, 2012


Canta pra mim, anjo...



inscrevi em teus olhos em uma cena em contrário quando o cenário estava completamente tomado por objetos que desafiavam a gravidade. eu levitava em suas mãos... sem ao sentir o teu toque...

eu me vi deitada sobre a tua iris, a mão pousada sobre a tua pele desenhando um quadro impressionista. era azul a tua fala e eu te ouvia sussurrar o meu nome quase em música.

essa não era a música que pedi para nós dois. toque outra, tempo. cante outra, vento. mas não machuque mais essa pele que já não acredita que o amor pode ser assim tão inocente quanto as palavras que disse a ele e ele nem deu atenção.

fotografe a minha saudade, anjo, quando os dias se contam em minutos desenhados na parede e eu tenho quase certeza que são poucos, finais de um tempo fino e pausado. posso sentir em minhas mãos o hálito amparado pelo teu não antes que me tocasse a alma.

ainda não é o tempo, meu anjo. ainda não, mas ele não tarda e logo virá em que eu não precisarei mais de licença e nem códigos para te desejar com a minha alma e as minhas mãos.

eu penso em você o tempo inteiro e sonho, anjo... e quando não me restar mais as lembranças inventarei outras tantas, mágicas, quantas e te criarei em vime, trocas, silêncios, até que o meu desejos seja a materialização desse amor imenso em que eu teço em rendas e apetrechos nessa viagem... talvez sem volta.
chore as minhas lágrimas, anjo. beba-as com a minha sede tanta de teus olhos em mim e o teu cuidado me arrumando um lugar para deitar a minha cabeça quando os meus olhos já houverem chorado o tudo. porque em mim a tua ausência é um balde seco diante de um mar de águas quase insuportável de beber porque já não há choro suficiente para te conter em mim, mar de anjo e palavras...

canta em mim, anjo, como quem arruma a cama para deitar enquanto a lua cheia entra sem piedade pela janela do quarto chorou enquanto arrumava a cama para deitar sua dor. ensaiou carícias que poderia ser na pele dele... pensou no que sonharia naquela noite, mas não conseguia parar de chorar e de sentir a frieza de apenas algumas horas sem ti.

eu já nem tenho asas, anjo, porque enquanto as deixo abertas é para ensinar aos outros que se aproximam que quando se prende se mata a borboleta em nós. nunca ensinei ninguém a ficar, anjo, por isso vivo só, asas abertas e pensamento longe. ali perto, em ti.

fica em mim, anjo quando não for mais possível ir embora sem me levar em ti... para sempre.  

*Imagem criada por Nilton Dias.