Canta pra mim, anjo...
inscrevi em teus olhos em uma cena em contrário quando o
cenário estava completamente tomado por objetos que desafiavam a gravidade. eu
levitava em suas mãos... sem ao sentir o teu toque...
eu me vi deitada sobre a tua iris, a mão pousada sobre a tua
pele desenhando um quadro impressionista. era azul a tua fala e eu te ouvia
sussurrar o meu nome quase em música.
essa não era a música que pedi para nós dois. toque outra,
tempo. cante outra, vento. mas não machuque mais essa pele que já não acredita
que o amor pode ser assim tão inocente quanto as palavras que disse a ele e ele
nem deu atenção.
fotografe a minha saudade, anjo, quando os dias se contam em
minutos desenhados na parede e eu tenho quase certeza que são poucos, finais de
um tempo fino e pausado. posso sentir em minhas mãos o hálito amparado pelo teu
não antes que me tocasse a alma.
ainda não é o tempo, meu anjo. ainda não, mas ele não tarda
e logo virá em que eu não precisarei mais de licença e nem códigos para te
desejar com a minha alma e as minhas mãos.
eu penso em você o tempo inteiro e sonho, anjo... e quando
não me restar mais as lembranças inventarei outras tantas, mágicas, quantas e
te criarei em vime, trocas, silêncios, até que o meu desejos seja a materialização
desse amor imenso em que eu teço em rendas e apetrechos nessa viagem... talvez
sem volta.
chore as minhas lágrimas, anjo. beba-as com a minha sede
tanta de teus olhos em mim e o teu cuidado me arrumando um lugar para deitar a
minha cabeça quando os meus olhos já houverem chorado o tudo. porque em mim a
tua ausência é um balde seco diante de um mar de águas quase insuportável de
beber porque já não há choro suficiente para te conter em mim, mar de anjo e
palavras...
canta em mim, anjo, como quem arruma a cama para deitar
enquanto a lua cheia entra sem piedade pela janela do quarto chorou enquanto
arrumava a cama para deitar sua dor. ensaiou carícias que poderia ser na pele
dele... pensou no que sonharia naquela noite, mas não conseguia parar de chorar
e de sentir a frieza de apenas algumas horas sem ti.
eu já nem tenho asas, anjo, porque enquanto as deixo abertas
é para ensinar aos outros que se aproximam que quando se prende se mata a
borboleta em nós. nunca ensinei ninguém a ficar, anjo, por isso vivo só, asas
abertas e pensamento longe. ali perto, em ti.
fica em mim, anjo quando não for mais possível ir embora sem
me levar em ti... para sempre.
*Imagem criada por Nilton Dias.