terça-feira, janeiro 03, 2012

A falta é a minha resposta em lugar da dúvida


O que me falta é o que excede na minha dúvida. E quando ele me olha do nada respondendo às perguntas que nunca fiz, o meu coração se reparte em culpas. Eu sou de março e ele é abril e todas as falas remetem a um setembro de sonhos fragmentados em um quebra cabeça que ele não montaria se eu não tivesse rompido os laços.

Eu acalentava a verdade como quem guarda um tesouro que se descoberto mudaria todas as falas. E eu abri todas as portas, porque em mim o vácuo era a fala dele com nome e sobrenome de vida. E a vida, essa que adornamos em fitinhas e lacinhos coloridos e colocamos uma moldura rosa para pregar na parede dos vizinhos, é a que menos me interessa. Porque o meu sangue desce pelos poros e respira ausências de tantas esperas.

Exibimos o perfeito de nossas máscaras. O melhor sorriso, o melhor batom, a roupa comprada para a festa, a simpatia dos casais na pracinha da cidade, o sorvete que não amarga, o chocolate nunca amargo, a lingerie comestível, a pipoca na sala e o filme na cabeça. Dentro em nós, outros tons, outras dores, outros amargos de feira e o sorriso, sem clareamento dental mostra a tatuagem do dente e do dentro, onde tudo é metade nós mesmos.

Eu poderia fingir. Nomear as angústias, revelar minhas ausências, dizer o que não consigo nem sonhar... mas em mim, a palavra tomou a forma de nada e calou-se farta de tantas leituras e silêncios.

Estou aqui.
E isso pouco importa a essa noite.

7 comentários:

Anjo disse...

As dúvidas que fazem com que você se perca, talvez um dia sejam a chave para transpor teu universo imaginário de sonhos desfeitos, recolocando no lugar os pedaços que se explodem no dentro e suprindo as faltas de uma ausência atrevida, que se fez nua para que no hoje seja mais sentida, emergindo tuas dores e sangrando o peito como pequenos diamantes, que brilham, ofuscando teu eu e trazendo as recordações dos laços rompidos.
E se você ainda está aí, é sinal de que sobreviveu bravamente mais uma vez das batalhas incansáveis da vida, esvaziou alguns sentimentos mais primitivos, para que a carga dos ombros se torna-se mais leve e se encheu de vida, de sabedoria...de maturidade....adquirida com alguns traços a mais no rosto...mais refletindo no espelho a alegria de ter sobrevivido.

Dira disse...

As dúvidas me sustentam, anjo. Os contrários me pertencem. Talvez eu não me responda nunca em meus vácuos, mas a vida segue e continuo me construindo em palavras que talvez não me traduzam, mas sou o conflito, a culpa e a fé. E essa mistura me completa e me reparte...

Anjo disse...

Durante meses observei os fragmentos de toda essa emoção contida...de toda essa loucura liberada nos versos....nas frases...nas palavras....e todo esse conteudo me encheu...e transbordou dentro de mim com uma certeza de que existe um mundo além da sala...da mente...do coração....e assim me rendi...como quem mergulha de cabeça...num poço escuro...sem medos ...sem limites...apenas trazendo nas mãos a esperança de dividir o que me consome.

Dira disse...

Ser observada por meses, dá um friozinho na barriga, anjo. mas ao mesmo tempo me faz crer que nem toda palavra ao vento volta vazia de si mesma, mas deixa alguém grávido. como grávido é o verbo em me criar todos os dias... seja bem vindo e fique livre, não há portas, nem trancas, nem ferrolhos, nada que te prende, senão a minha oceânica (como diria um amigo meu) vontade de ir além, e sempre e sempre....

Anjo disse...

A essência de todo teu verbo...esta exatamente na direção da liberdade que explora cada vez mais o teu texto...sinto o eco da voz que grita...fica até quando quiser!...mais se for prá ficar que seja de verdade...esse é o outro lado da nossa procura.... o real

Anjo disse...

Que lugar é o teu chão?????

Dira disse...

o q tu pisas é o meu chão.
onde faço o meu mergulho.
boa viagem, anjo, ao centro da terra.