Ele me calou com o dedo
molhado de café em minha boca. Não dissemos uma palavra. Não havia mais nenhuma
para ser dita. Tudo estava como deveria estar desde o primeiro dia. Não há o
que se esperar da covardia das pessoas. Eu sempre tive a sorte (ou não) de ter
covardes para o jantar.
Aquilo não foi uma
despedida. Aquilo nem sequer era alguma coisa que se pudesse contar em alguma
história de amor. O moço dobrou a esquina e sei que sofria. Mas em mim a
covardia dele era um prato amargo de se consumir.
Eu quis gritar. Quis ir
atrás, implorar, acho que metade de mim foi com ele e ainda assim, eu quis ir
por completo. Mas era pouco o que eu sentia para ir com ele naquela aventura de silêncios.
A dor era tão grande que
chegava a desenhar vulcões em erupção sobre a minha pele. Pele de dores e de
desencantamento. Vi tudo o que estava por trás como se fosse a mim revelado
toda a farsa da covardia.
Eu chorei. E morri os dias
seguintes até que conseguisse sepultar todos os meus mortos e as minhas
lágrimas amargas e tão desnecessárias. Mas sou assim mesmo... o tempo de luto é
o tempo de recompor meus limites.
Quando o dia amanhecer após
uma noite longa de choro e de dor... eu ainda estava ali, esperando por ele, o
mesmo moço que morava em mim, mesmo depois de ter tentado colorir outra cor,
onde a pele dele era a minha tatuagem perfeita em minha alma e pele.
E todos os dias, alimento a
partida, como único recurso para chamar para mim a parte que foi e que me faz
falta quando espero os dias úmidos em minhas entranhas para agasalhar o frio de
alimentar sonhos... antes que a parte que me cabe também vá em homenagem a ele.
Dira.
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