quarta-feira, fevereiro 22, 2012

O amor soletra saudade e chora


Tinha a impressão de ter visto o anjo ali, quando fechei os olhos para chorar. Sim, podia ser ele. Senti quando um vento tomou-me por surpresa e me tocou as costas. Ele. E a minha dor fez a canção que eu tinha de melhor, verbo entalando na garganta como um grito de socorro.

Não poderia dizer para mais ninguém o que só ele poderia entender. Como essa música... um aboio que se canta sozinho, na varanda de casa, de frente ao portão quando todas as pessoas já foram embora. 

E nada que me acene capta em mim essa ausência. E nada que eu tome pode medicar a saudade. Essa coisa estranha que é se sentir pela metade quando nunca se foi um inteiro. 

Só sei que a tua boca tem a exata dimensão da volta e da minha. O peito se aperta enquanto os olhos desenham uma estrada de silêncio até o teu coração. Estrada sem volta...

Eis-me domando os ventos e orquestrando o silêncio dos dias em que passo sem ouvir, ver, tocar, falar , sonhar contigo. 

E qualquer conselho, e qualquer ordem e qualquer fala estranha pode sim não entende que as dores permanentes, as dores agudas misturadas não pintam quadros, nem desenham paisagens mas nos afogam em imensas ordens de sossega, sossega, coração. Eu sou a luta de levantar e seguir e outra luta de esperar e esperar...

Sim. Era ele, quando fechei os olhos para chorar, porque todos os dias derramo as tempestades sobre o caminho que ele fez enquanto voou para que os meus rios o tragam, mesmo que nem seja uma volta, mas outro encontro que me deixe navegar por ele... por seu corpo, por sua pele, por suas mãos e sua voz firme que me grita: levante, levante daí, porque é a sua boca em que eu vim mergulhar, como quem toca a fonte de sua emoção.

Eu gritei. E ele ouviu. Mas cansou de ser anjo, pois queria ser pássaro gente também.

Dira Vieira

14 comentários:

Anônimo disse...

Minha Di,

Assim que soletrei sua saudade...sorrindo perguntei ao tempo sobre o amanhã.
Ele ventou e respondeu: silêncio! Ele acabou de passar.
;o))
Si. (Petra)

Dira disse...

Esse tempo tem sido tão sacana comigo, Si... mas deixa estar, um dia eu ganho dele. estou cansada, meu amor. cá pra nós, tenho vivido como se soubesse q tenho pouco tempo. premonição?

Julia disse...

oi dira, lindo como sempre:
"Eu sou a luta de levantar e seguir e outra luta de esperar e esperar..."
sabe, o único tempo que temos é agora, é só o que é preciso...
viver é puro mistério né?
haja coração!
bjs!

Dira disse...

Julinha, ainda não consigo comentar no seu blog, nem no de ninguém do blogger... se alguém puder me orientar...vou amar... obrigada querida por vir aqui.

sabe quando o coração grita e grita sem parar? é esse o mistério do desencontro...rs

Anônimo disse...

Desse modo, vc não me deixa outra alternativa a não ser RECORDAR JUNTO E EM CONJUNTO CONTIGO A ESSÊNCIA DO QUE VC É...em detrimento daquilo que vc está sentindo.

* * *
17/03/2005

De:"Dira"
P/: "Si"

"Si, antes q eu publique... leia isso... vc é meu anjo.

VISÃO DO FIM

Um anjo bateu em minhas asas, tocou uma música suave, lambeu minhas feridas abertas, num amor escatologicamente meigo e disse, levanta, abre as portas, que o amor só merece o amor, e a vida que escorre em lágrimas pelos teus olhos, ainda verão grande luz após as montanhas da tua tristeza. E eu, cambaleante, olhei para trás e não te vi. E por pouco não virei estátua de sal. E o anjo, segurando a minha mão, fez-me respirar fundo, como se a suportar a visão dos tempos que viriam a acontecer, colocou-me sobre a Pedra de uma rocha e disse: olha, o essencial, virá das nuvens, nos azuis que tanto esperas e trarão a verdade, a maturidade e a consciência de que tu és, apesar de todas as coisas. E eu te amo. E tu me és. Porque te sei. E nada mais importa.
Estendeu as mãos para outra direção de onde vi um grande mar se abrir, surgindo no meio uma grande mãe de tetas fartas, que me disse, vem. E ela era poesia concreta, e dos seus seios saiam palavras de vida que escorriam como se fossem água saindo de uma mangueira. E eu ainda olhei para o anjo e ele tinha a voz de Madalena. Ele que é ela...me tomou nos braços, enquanto eu me desfazia em ondas, e acalentou-me, mostrando-me as pérolas no meu peito e dizendo, não solte-as aos porcos. Fechou minha mão como em concha e abarcou meu coração e me deu fôlego novo.
(...)

Anônimo disse...

(...)

Mais suave, procurando um chão para pousar. Imaginei que o amor perdoa, e tem os olhos cegos para os erros dos outros, mas o ódio mata e esse, o anjo apertava entre as mãos como um raio e sacudia-o para o fundo do mar. Eis que repente, vejo um dragão lindo sair de dentro das águas e curvar-se diante de mim, oferecendo-me os ombros, pegando dos meus ombros todo o peso, e a indiferença dos dias. Com uma voz de um pássaro, ele me disse, vem. E eu me senti subir sobre as suas costas e já não era eu, mas um soneto de encantamento que terminava o seu ciclo e via-se naquele que foi, sem deixar marcas.
A dor, que o amor tatuou na pele, o dragão sarou. E eu me vi flutuar, na música que o anjo tocava suavemente. E abri as mãos para receber a vida, enquanto ela ainda estava alí, aberta a mim, louca para tocar a minha boca.
Sorri para ele. E como espelho, o dragão era eu, e o precipício era eu, e os meus medos, os medos dos outros, e o desejo era meu e a vontade de viver era minha e eu não podia passar para ninguém, até que o dragão cortasse as nuvens e me levasse para outra ilha. As vontades eram minhas, e as culpas, o espelho do outro. E o lixo já não era, já que a liberdade se moldava em mim.
Quando voltei à terra. Não vi ninguém chorando sobre o meu túmulo, nem amigos, nem inimigos. Mas vi o anjo, sorrindo, me entregando um livro, onde dizia que o verdadeiro amor fecha os olhos e mergulha. E eu amei o anjo, mas amei a mim mesma, pela capacidade de flutuar quando a dor suplanta a vida.
Não precisei dizer-me partir, porque eles estavam alí, sem que eu precisasse pedir. Dos meus olhos que olhavam o nada, e dos meus desertos completamente dispersos, revi uma poesia seca e não quis mais chorar.
(Quisera eu, nunca lamentar um amigo ido. O que é fato, nunca vai, sem nunca ter sido. Porque eles se vão, quando nossas faltas ferem o seu coração e os deixamos sozinhos. Caminho sobre ossos secos que me esperam no sopro, na simplicidade de dar, sem nunca se importar com o que vem depois. Com o amor, eu fecho os olhos e pulo. Nunca mais a metade será apenas eu. E a falta como sombra que me assusta. Quero ser plena e parir os sons de um quilombo de mim).
O anjo estava alí na praia, enquanto o dragão me deixou. E ele se foi, deixando o seu coração a pulsar na minha mão, guardado em concha. E o anjo se foi, deixando-me suas asas para que eu voasse além das dores. E eu adormeci feliz como a que pariu distância e sobreviveu a elas. O amor me trouxe de volta, o amor pelo amor, me devolveu as falas e preencheu minhas faltas e ele já não era comigo. E nem assim eu morri, porque já me bastava o só".
Dira Vieira.

PS. Viu, minha DI!? “O FIM” é na verdade só o COMEÇO de um novo caminho...que se inicia por si só...sozinho.


NO MAIS..EU SOU CONTIGO...DESDE MUITO ANTES DO COMEÇO..lembra?
Por isso...CANTE, MINHA DI! "levanta, sacode a poeira e DÁ A VOLTA POR CIMA."
Continuemos a caminhar? ;o)

Anônimo disse...

...
Palavras suas, minha DI!

"o amor só merece o amor, e a vida que escorre em lágrimas pelos teus olhos, ainda verão grande luz após as montanhas da tua tristeza".

Eu?
CONFIO, respondo!
Si ;o)

Anônimo disse...

E quanto ao TEMPO, minha Di!

Antes de Dormir,
"UM AMIGO ME CONTOU"
;o))
http://www.youtube.com/watch?v=OOE1kivcKHg

Anjo disse...

O céu é lindo!!!...então vem comigo....me mostra o lugar certo para pousar....ressucita meu verbo...preencha minhas falhas...pois apesar de Anjo...me perco nas imperfeições que no teu verso se fazem perfeitas.....então transcede meus limites....beba no meu copo.....e quem sabe a gente se encontra no jantar.

Dira disse...

Não há céu lindo sem vc, anjo. Nenhum. Morro e fome e sede. Todos os dias em que me deixas só.

Anjo disse...

Jamais te deixarei só....ao contrário...sei que estou a preencher os teus esaços...a crescer na tuas linhas e a dividir contigo toda essa mágia....mais o que sinto falta mesmo é de boa música....quer dançar comigo???

Dira disse...

Se não percebeu, já estás em mim. cantando e sussurrando o teu verbo em mim;

Anjo disse...

Então assim bem devagar prá não quebrar o encanto das horas...e sentir a mágia estampada no teu verbo...que se inflama e me inflama ao te sentir tão inteira...por vc me torno um anjo vencido...algumas horas errante...em outras talvez amante...mais o que importa é ser teu anjo por inteiro...e vamos continuar dançando.

Dira Vieira disse...
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