O AMOR É MERGULHO NO
INCERTO
Desconfio dos relacionamentos de baixo envolvimento. A ideia
de "desapego" ainda não me convenceu.
Desapego-me de objetos, de
coisas, de produtos da mão do homem, mas nunca de pessoas. Ao contrário,
costumo mergulhar nelas como alternativa contra o isolamento e a morte de mim
mesma. Eu mergulho no outro, em uma tentativa desesperada de sobreviver.
Preciso de pessoas, preciso dar e receber afeto. Sou feita
de sorrisos, de paixões, de riscos. A minha pele se molda no desconhecido, se
adapta ao calor e colo que me afaga. Não dou à mínima aos rituais sociais. As
obrigações de ser e ter amigos. Eu me moldo ao afeto que me cativa, que me
seduz, que me ganha quando isso não tem nenhuma implicação de deveres e de
favores.
Se eu digo que amo, estou dizendo eu preciso de você e não
necessariamente que essa declaração tenha uma conotação sexual, amorosa, ou
outro qualquer rótulo que se queira supor em uma tentativa de categorizar os
sentimentos.
Sim. Nunca consigo sair ilesa das minhas relações humanas.
Há sempre o conflito. O amar demais, o medo do outro, o estranho, o
estrangeiro, o exótico, o que não se entende. Mas principalmente, me ressinto
de mergulhar sozinha, ou muito bem acompanhada e de lá, sair aos pedaços, ou
quase sem fôlego porque o outro, não suportou a profundidade e subiu para
respirar.
Quando alguém me diz que não crer no amor após cativar de
mim todas as declarações de apego mais profundas me agride profundamente.
Porque nunca confundo educação com amor. Eu sei bem a diferença de ser educado
e de ser encantado. Se eu fosse me apaixonar, ou mergulhar em todos que me são
educados, seria uma catástrofe. Toleramos a todos, amamos os que nos cativam.
Não vou ser hipócrita de dizer que amo a todos, mas mergulho onde o mar é
convite ao encantamento. A minha alma se molda onde o afeto é pele e onde a
pele salta em contato com o olhar do outro.
Eu não cuido dos outros, eu amo. Eu não sou mãe de meus
filhos, nem dos meus netos, nem dos amigos, nem
dos amores...sou mãe de minha fome do outro. É no outro onde me
alimento, como vampiro que depende da sedução e do sangue fresco.
Nunca saio impunemente de minhas relações pessoais...sempre
saio dolorida, sempre machuco, sempre sou machucada. Porque todo mergulho me
leva por inteira e eu não consigo viver nas superfícies das amizades
comportadinhas, superficiais e carregadas de segundas intenções. Não desejo o
que é do outro, mas desejo sempre e
sempre o outro por completo dentro de mim. Não há outra forma de ser
amigo... por isso que me classifico o
tempo inteiro como um ET, um ser completamente fora de mim.
Toda relação humana ou animal, leva de mim apenas o tudo, e
quando ela acaba, me deixa assim, como se eu não tivesse mais casa, ou como se
o outro, tivesse levado de mim o que nunca foi meu, o amor que de mim se doa e
se perde nessa troca da imensidão do outro.
Eu amo, louca e desesperadamente assim... e isso me será
imputado para a morte como quem se culpa de ser humana, demasiadamente humana,
ou extraterrestre.
Dira
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