sábado, abril 07, 2012

Lua Nua


Quando o carro buzinou em frente do prédio, Madalena pulou da cama. Chega de choro, vamos às ruas. Pegou sua pequena bolsa que no momento estava em poder do poodle que a puxara de cima da cama e mandou beijos para mim fazendo gestos com a mão. - Que horas vem? Gritei. - E eu vou lá saber? Sei lá se o papo é interessante? Ah, deixa eu ir, que meu amigo me espera.

Enquanto ela descia as escadas, prédio de três andares, a ansiedade de Madalena saiu deixando cheiro pelos corredores. Era um cheiro amadeirado. De onde vinha, eu não sabia. Mas abri a porta para deixar que a presença dela ficasse dando voltas de ir e vir. 

Prender Madalena? Só o amor que tinha esse poder. Mesmo assim era temporário.Não se prendia Madalena.  

[não te disse que a gaiola não prende e sim a porta aberta?]

Segui Madalena pelo cheiro. Não temos como nos separar. Ela vai, eu vou junto, como açude que sangra e as águas vão levando tudo que estiver pelo caminho. Eu vou junto, com a enchente que emana de seus poros e nem me seguro nos galhos que esbarro pela frente.

Ontem com o coração apertado, a pressão alta, e a cabeça vazia, eu a acompanhei em seu encontro. Na calçada, um rapaz dentro do carro a esperava. Alto, esguio, de óculos, figura bonita, sorriso largo, pele branquinha... Quando entramos, ele a beijou educadamente no rosto. A mim ele não viu. Só Madalena me sentiria naquele momento.

Queria sair das ruas. Queria ir para o apartamento dele. Talvez ouvir uma boa música, tomar um bom vinho, conversar amenidades. Não era sexo. Nada que fizesse ligação ou menção a isso. Por que os homens sempre acham que levar para casa era a concordância silenciosa de sexo? Não fazia sentido. Madalena só queria fugir em boa companhia. Conversar a noite inteira. Ninguém a esperava em casa. Senão eu, em corpo. 

Pensou em propor mudar o roteiro. Ao invés da pista de dança, o aconchego de quatro paredes. Queria se esparramar no chão de alguma sala, discutir uma peça de teatro. Um filme. Uma música. Viu como andam as pessoas pelas ruas de São Paulo, tão assustadas olhando para os lados. Observou como elas seguram as bolsas? Diferente das que andam no comércio de qualquer cidadezinha do inteiror? Nada. Só a vida, o dia a dia. André, o moço que a esperava no carro, era apenas o seu amigo. Haveria sexo entre amigos? O que temem os homens ao se guardarem das amigas?

Madalena fizera silêncio durante o trajeto, até esbarrarem na entrada da boate. Um lugar aconchegante, meia luz, seguranças na porta, uma moça gentil veio nos receber. André desceu do carro, abriu a porta para Madalena e ficou tonto quando sentiu o seu cheiro. Ela estava linda. Por um momento, André quis esquecer que eram apenas amigos. Bons amigos.
  
Eu me agarrei a ela com medo de ser deixada no banco de trás. Entramos. Carla Bruni cantava quase que sussurrando como música ambiente. Como podia isso? Ia acabar com Madalena. Se ela tomasse um vinho, fragilizada que estava ia pegar mal.

E se ela não se contivesse e beijasse André? E se ele a recusasse? E se pensasse que ela estaria apaixonada? E se no outro dia ele sumisse de vista? E se ele pensasse mal dela? E se ela chorasse quando se embriagasse? E se risse demais, escandalizaria o ambiente? Madalena queria mesmo era o aconchego do seu apartamento. Para chorar, como queria naquela bendita noite. E isso, não implicaria, nem de longe a fazer sexo com André.

Quando o vinho já fizera um certo efeito, vi Madalena sorrir intensamente. Menos mal, poderia chorar, como seria o óbvio pela dor de sentia. Mas ela sorria das reservas do André. Quando ele a chamou para dançar, sob a induções dela, Madalena ajeitou as madeixas sobre os ombros, e dirigiu-se ao salão do dancing desejando ardentemente que fosse ele, o seu amor do Rio.

A música a conduzia, como pluma nos braços de André. E ele se permitiu, ao menos aquela noite, ser daquela mulher, em corpo, amizade, e coração. Porque de Madalena seria difícil fugir estando ela envolvida nas teias do vinho e da sedução. Que importava o dia de amanhã, se o vinho era bom e não prometia mal estar?

4 comentários:

Anônimo disse...

UIA O Q EU ENCONTREI, Di!
;o))

Di,
Via de regra, percebo nas entrelinhas de sua bela poesia, que ao falar de sua emoção (seja subindo ou descendo "escadas") vc é demais de cruel consigo mesma. O que vc rotula de bobo e piegas me soa quase sempre de forma comovente, simples e belo, na tristeza que lhe cabe. É fato q Madame Min tem a sua Maria e sua Madalena, e talvez não apenas da forma como você as encontra, (Voando pelo Céu da Boca) mas dentro dela mesma.
Essa trindade - santidade, pseudo-leviandade e desespero em encontrar espaço na vida de um outro onde caiba - me chega como sendo uma combinação informal de querenças.

Então me ocorre sugerir q basta que você reflita sobre quais você quer que, de fato, sejam curadas com realizações e depois as colha, como o fazem as parcerias que verdadeiramente se amam.

POR FAVOR: Não deixe a sua vontade de viver Com Amor, Por Amor e Pelo Amor, morrer. Não morra pela Madalena.
Aceite o encanto da vida de Maria.

E, sobretudo, se permita ser a Diracy.
Bj, Si

15/01/2011 15:57h - Petra

Dira disse...

Ai Si. Deixa eu acreditar q eu Madalena é ficção;..rs

Anônimo disse...

;o))
Se vc. fizer questão de esquecer que é a Verdade o que liberta! Então..tá baum! ;o)) Sua vontade é soberana... MadameAdalena. ;o)))))

PS. Enquanto isso: eu aqui, SI...! Solrindo para a clara lua. (rs)
Solria, Di, Solria!!!!

Anjo disse...

Essa Lua que se molda ao entorno da tua Madalena...corrompendo dores...vivendo amores...imaginários ou não...é o que te traz vida...então suga o teu outro eu e libera nas entrelinhas toda a tua história...pois foi nesse roteiro que eu encontrei abrigo....aqui é o meu refúgio quando o carro perde o controle...vc é o solta e o que retem...tava com saudades.